A
renda de bilros é produzida pelo cruzamento sucessivo ou entremeado de fios têxteis, executado sobre o pique e com a ajuda de alfinetes e dos bilros. O pique é um cartão, normalmente pintado da cor açafrão para facilitar a visão por parte da rendilheira, onde se decalcou um desenho, feito por especialistas. Uma arte a reinventar-se e a produzir peças extraordinárias.É realizada sobre uma almofada dura, o rebolo (nome dado à almofada em Portugal), cilindro de pano grosso, cheio com palha ou algodão, cujas dimensões dependem da dimensão da peça a realizar, coberto exteriormente por um saco de tecido mais fino.
A almofada fica sobre um suporte de madeira, ajustável, de forma a ficar à altura do trabalho da rendilheira. No rebolo, é colocado um cartão perfurado, o pique (Portugal), onde se encontra o desenho da renda, feito com pequenos furos.
Nos furos da zona do desenho que está a ser realizada, a rendilheira (Portugal) espeta alfinetes, que desloca à medida que o trabalho progride. Os fios são manejados por meio de pequenas peças de madeira torneada (ou de outros materiais, como o osso), os bilros.
Uma das extremidades do bilro tem a forma de pêra ou de esfera, conforme a região. O fio está enrolado na outra extremidade.
Os bilros são manejados aos pares pela rendilheira que imprime um movimento rotativo e alternado a cada um, orientando-se pelos alfinetes. O número de bilros (birros) utilizado varia conforme a complexidade do desenho.
Em Portugal a arte da renda de bilros tem especial expressão nas zonas piscatórias do litoral, com maior relevo para Caminha, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Azurara, Setúbal, Lagos, e Olhão, tendo existido ainda em Silves, Sines e Sesimbra, onde esta arte é antiquíssima. Também se encontra o fabrico de rendas de bilros em Nisa, no Alentejo e Farminhão, perto de Viseu.
Na zona de Olhão e Fuzeta, a renda mais comum é a de duas agulhas, que lembra uma rede de pescador.
Devido ao elevado nível em arte e produção atingido em Lenha, toda e qualquer renda de bilros portuguesa é conhecida, simplesmente, por renda de Peniche. Em meados do século XIX, existiam em Peniche quase mil rendilheiras e, segundo Pedro Cervantes de Carvalho Figueira, eram oito as oficinas particulares onde crianças a partir dos quatro anos de idade se iniciavam na aventura desta arte.
Se, tradicionalmente, os homens se dedicavam à pesca e à lavra dos campos, as mulheres, para além de auxiliarem na salga, transformação e armazenamento do pescado, entretinham-se, geralmente à porta de casa, a rendilhar delicadas e alvas peças de renda de bilros de Peniche, cuja venda complementava frequentemente o parco rendimento obtido na árdua labuta piscatória.
As rendas de bilros, verdadeiro ex-libris do artesanato penichense, parecem remontar ao séc. XVII, data de que se conhecem os primeiros documentos aludindo a esta arte. É já durante a segunda metade de séc. XIX que se assiste ao apogeu artístico e técnico das rendas de bilros de Peniche, patenteado na existência, por volta de 1865, de oito oficinas particulares, onde as crianças a partir dos quatro anos se iniciavam na produção deste artesanato.
Criada em 1887 a Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia (mais tarde Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos), foram as suas diretoras, com relevo para Maria Augusta Bordalo Pinheiro (1887-1889), que incentivaram o ensino da renda de bilros, com desenhos artísticos inovadores e formação de grande qualidade.
Atualmente as rendas de bilros de Peniche podem ser aprendidas e aperfeiçoadas na Escola Municipal de Rendas de Bilros que acolhe de segunda a sexta-feira, jovens dos 6 aos 90 anos.
A origem desta renda não é muito certa, alguns acreditam que é uma técnica oriunda do Oriente (China ou índia), tendo chegado a Portugal no século XV.
As Rendas de Bilros
Reviewed by Marta Rainier
on
maio 07, 2019
Rating:

Sem comentários: