A produção cerâmica de Alcobaça, foi gerada por volta de 1875, com a instalação da Fábrica de José dos Reis, mestre-oleiro de Coimbra, que trouxe dessa cidade, técnicas e motivos decorativos como as paisagens com castelos e estátuas equestres à inglesa, que se divulgaram nas grandes produções industriais, como a Real Fábrica de Loiça de Sacavém.
Com a aquisição da Fábrica de José dos Reis, em 1900, por Manuel Ferreira da Bernarda, assistiu-se ao desenvolvimento da produção, com o abastecimento do mercado local. Em meados do século XX, a fábrica assumida em 1900 por Manuel da Bernarda, passou a ser administrada por Raul da Bernarda, iniciando a venda de peças de cerâmica para o estrangeiro.
Em 1927, Silvino Ferreira da Bernarda, um dos seis filhos de Manuel Ferreira da Bernanda, e os dois irmãos António e Joaquim Vieira Natividade, criaram a empresa Olaria de Alcobaça, Lda. (O.A.L.).
A partir dessa data, a Olaria de Alcobaça iniciou um autêntico período de renovação da produção cerâmica, desenvolvendo um produto que se dirigiu para a requalificação técnica e artística da cerâmica, em cópias de peças antigas e em apostas em peças modernistas, especialmente até 1947.
Um dos factores para a renovação da produção cerâmica, é o surgimento das peças de autor. O pintor naturalista Martinho da Fonseca (1890-1972) e o aguarelista Jorge Maltieira (1908-1994), foram os primeiros a assinar as suas peças. Posteriormente, verificou-se a estadia de pintores de cerâmica que assinaram as suas peças, como: Joaquim Natividade, Irene Natividade, Leonor Natividade, José Pedro, Silvino da Bernarda, Alberto Anjos, Arnaldo Marques e Noel Costa.
Delimitando-se de uma produção de loiça comum, a Olaria de Alcobaça criou réplicas de peças cerâmicas do séculos XVII, XVIII e XIX, tendo para o efeito realizado o desenho das peças existentes nas colecções dos principais museus.
É comum a representação "compota de ginjas", pratos decorados com “rendas” e corações trespassados. Outras peças, igualmente pintadas a azul e branco, adoptaram como modelos cerâmicas de finais do século XVII e inícios do século XVIII, produzidas em Lisboa, com cercaduras de acanto e cenas centrais com veados, cães e paisagens com motivos arquitectónicos.
Algumas peças iniciais da Olaria de Alcobaça, dita de cerâmica ornamental, apontam para uma renovação no tipo de objectos - jarras, potes, bases de candeeiros, pratos decorativos - e na súmula decorativa, naturalista, com fantasiosas elaborações de desenho.
As formas fortemente simplificadas, com volumes esféricos e cilíndricos, podem abranger volumes rectos, prismáticos e piramidais. A decoração é envolvida por motivos vegetalistas, em registos naturalistas, envolvendo a totalidade das peças ou delimitando-as em barras bem traçadas, separadas pela policromia intensa ou escala dos motivos.
As peças de produção lisboeta Monte Sinai, foram modelos muito apreciados, distinguindo-se pelo azul-forte em contraste com o branco. Já a cópia e interpretação das formas da loiça “ratinho” – assim denominada por ser vendida a preços módicos aos trabalhadores das Beiras, que se deslocavam sazonalmente para o sul do país para auxiliarem nas actividades agrícolas - com origem em Coimbra, com grande circulação em finais do século XIX e início do século XX, dará origem a peças de gosto e manufactura popular de poderosa expressividade.
Nos últimos anos da década de 1930 e nos primeiros anos de 1940, as peças da Olaria de Alcobaça foram bem sucedidas junto dos mercados brasileiro e americano, declinando a partir de 1948, quando as imposições dos encomendeiros prevaleciam e não se impunham modelos estéticos com qualidade.
Em 1959, João da Bernarda, aplicou na Olaria de Alcobaça os ensinamentos estéticos de cerâmica artística, aprendidos em Paris, e arrisca uma linha de objectos decoraticos, que foram expostos na 1ª Feira Industrial de Lisboa. Os objectos expostos distanciaram-se claramente do protótipo português e popular, bastante diferente do que se viria a designar por loiça de Alcobaça. Fundada em 1927, a empresa O.A.L. veio a encerrar em 1984.
Outras fábricas de cerâmica tentaram igualmente estratégias que prolongaram a produção manufacturada, insistindo na decoração em pintura manual – hand painted – garantindo um fazer artesanal. A loiça de Alcobaça produzida até aos nossos dias, afirma-se na cópia de modelos antigos, e a repetição de formas e motivos decorativos soltos, juntando policromias de azuis e amarelos ou de verdes e rosas.
A Raul da Bernarda & Filhos Lda. com mais de um século de actividade e expansão, comemorou o ano 2000 com a abertura de um Museu. Nele estão representadas mais de uma centena de peças que demonstram os estilos artísticos desenvolvidos na fábrica, desde 1900 até 1970. Em Maio de 2008, a empresa fechou as portas e iniciou o processo da insolvência.
O Museu Raul da Bernarda acolhe algumas das mais belas e representativas peças da produção da “Raul da Bernarda & Filhos, Lda”. Podemos admirar a Faiança Portuguesa do último século e também a Faiança de Alcobaça.
A Louça de Alcobaça
Reviewed by Marta Rainier
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maio 12, 2019
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